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LANÇAMENTO

Sobre a Obra
Autora
Nota Histórica

Em 1923, Barbara Newhall Follett, de oito anos, começou a escrever A Casa sem Janelas como presente de aniversário para sua mãe na pequena máquina de escrever portátil que ela usava desde os quatro anos de idade. Publicado em 1927, o livro recebeu elogios arrasadores. “Um espelho da mente da criança”, anunciava uma manchete do New York Times: “O documento mais autêntico e puro de uma fase transitória e até então não registrada em inteligência plástica… um pequeno livro realmente notável.” 

Trata-se da história de uma jovem garota, Eepersip, que foge de casa para viver na natureza idílica (sucessivamente, um prado, o mar e, finalmente, as montanhas).

 

Barbara Newhall Follett nasceu em 4 de março, 1914 em Hanover, New Hampshire. Seu pai foi Wilson Follet, professor de Inglês da faculdade de Darthmouth naquela época, tornou-se um editor conhecido e escritor do livro Follett´s Modern American Usage, ainda publicado hoje. Sua mãe foi Helen Thomas Follett, escritora autônoma que mais tarde publicou dois livros de viagem.

Um ponto decisivo para Barbara foi seu fascínio pela máquina de escrever de seu pai. “Conte-me uma história sobre ela,” ela exigiu, e depois que seu pai explicou-lhe como funcionava, ela começou a produzir furiosamente seus pensamentos em papel.

Quando tinha quatro anos ela conheceu um senhor sueco que restaurava antiguidades, Sr. Oberg. Seu coelho de pelúcia havia perdido um olho e o Sr. Oberg parou seu trabalho em cima de dois antigos relógios de parede para reparar seu coelho. Barbara ficou tão impressionada que não muito tempo  depois ela compôs sua primeira correspondência importante, uma história em homenagem ao Sr.  Oberg e assinada com seu nome completo:

Doze relógios estavam na prateleira tiquetaqueando.
Eles queriam dar uma volta, então pularam e foram.
Um pequeno cão os viu e empurrou um deles, então outro, e finalmente todos.
Eles se quebraram em pedaços. Então, o Sr. Oberg apareceu e disse: “Oh, meu Deus!” e colocou as peças em uma cesta e os levou para casa. Ele os consertou; e agora eles estão tão bons quanto novos.

Barbara Newhall Follett

Acreditando que Barbara receberia melhor educação em casa do que nas escolas públicas ou privadas, os Follets decidiram designar seu próprio currículo escolar em casa para Barbara, essencialmente desenvolvido por Helen Follet.

Quando tinha cinco anos de idade ela escrevia histórias um tanto longas, incluindo um conto chamado A vida da roda giratória, do cavalo de balanço e do coelho, que é excepcionalmente imaginativo e com vocabulário encorpado. A história está reproduzida no livro, Barbara, A Biografia Inconsciente de uma Criança Genial, um livro publicado tardiamente em 1966 e baseado em cartas e histórias de Barbara.

Em 1922, com sete anos, Barbara, que tocava violino, compunha notável poesia baseada em sua música:

Quando vou aos ensaios da orquestra,
há sempre muitas passagens para o
Triângulo e Tamborim
juntos.
Quando estão juntos,
eles soam como um grande pedaço de metal
que se quebrou em milhares
e está caindo ao chão.

Quando ela tinha oito anos, ela começou a trabalhar em “A Casa Sem Janelas” como um presente para a sua mãe. Depois que o primeiro manuscrito foi destruído num incêndio ele foi recriado durante um período de alguns anos, completado finalmente quando ela tinha onze e publicado em 1927 quando ela tinha doze anos, com grande sucesso.

Depois da publicação de seu romance Barbara se tornou fascinada pelo mar e convenceu seus pais a permitirem que ela acompanhasse a tripulação de um navio no verão seguinte, O Frederic H., uma escuna de três mastros indo para Nova Scotia. Mesmo sendo supostamente uma passageira ela insistia  em fazer tarefas como um marinheiro. Depois de voltar para casa ela transformou sua aventura em romance, A Viagem de Norman D., que foi aceito para publicação em 1928 quando ela tinha treze anos. Barbara era famosa.

Durante esse período seu pai passava mais e mais tempo em Nova York e pouco depois da publicação de seu último romance ela recebeu a notícia que seu pai estava deixando a família por outra mulher. Isso devastou Barbara, que era muito próxima de seu pai.

Durante alguns anos ela e sua mãe viajaram a vários países na esperança de Helen publicar um diário das suas aventuras. Não foi um sucesso imediato e elas foram forçadas a voltar aos Estados Unidos. Barbara durante algum tempo foi deixada com amigos em Los Angeles, um lugar que ela abominava,
especialmente quando ela passou a frequentar a escola. Ela fugiu para São Francisco, mas foi declarada
como fugitiva e apanhada pelas autoridades. O caso chegou nas manchetes nacionais.

Tudo isso foi um período especialmente trágico já que 1929 trouxe o começo da Grande Depressão e depois de voltarem e estarem unidos em Nova York, Helen Follett e Barbara encontravam-se com muito pouco dinheiro. Barbara foi obrigada aos dezesseis anos a encontrar um emprego como datilógrafa depois de fazer um curso de estenografia e datilografia para negócios, “decididamente o maior mal uso desta mágica,” como ela mesma o descreveu.

Em junho ela escreveu para um amigo “Meus sonhos estão vagamente mortos, eu achava que estavam todos seguramente enterrados mas às vezes eles se viram nos túmulos, remoendo as cordas do meu coração. Não falo de nenhum sonho em particular, você sabe, mas o radiante grupo deles todos juntos – com suas asas de arco-íris, iridescentes, brilhantes, excelsos, gloriosos, sublimes. Eles estão morrendo diante dos dardos e flechas de aço de um mundo de Tempo e Dinheiro.”

Por volta de 1934 ela havia escrito mais dois livros, Ilha Perdida, um romance, e Viagens Sem um Burro, um diário de viagens. Mas nunca foram publicados. 

Nessa época ela conheceu um homem chamado Nickerson Rogers, um aventureiro que compartilhava com ela seu amor pela natureza. Eles logo fugiram e se aventuraram por um mochilão na Europa. Eles se estabeleceram em Brookline, Massachusetts onde estavam relativamente seguros e felizes, pelo menos por algum tempo. Barbara fez aulas de dança durante os verões na faculdade de Mills, que adorava.

Em 1939 ela acreditava que Rogers estava se encontrando outra mulher. Ela escreveu a uma amigo, “Há outra pessoa…eu previ isso, eu sei.”

Mais adiante na mesma carta, ela escreveu, “Eu acho que eu o persuadi a me dar uma chance. Ele é uma pessoa muito doce, realmente, e odeia machucar pessoas. Ele odiou escrever aquela carta, por isso soou tão terrível. Eu acho que, se eu puder realmente provar que sou diferente, talvez as coisas se acertem. Ele ainda não acredita muito nisso, como ele diz, o leopardo não muda suas pintas! Ele acha que em um mês as coisas estarão todas erradas de novo. Então eu digo, pelo menos me deixe ter esse mês! Acho que eu consigo, e eu acho que posso ganhar se tiver forças.”

Uma carta mais tardia mostrou que Barbara estava esperançosa de que as coisas poderiam ser salvas: “Eu havia tido a sensação de que até então ele definitivamente não queria [tentar]. Então imagine a minha surpresa, minha quase histérica alegria quando ele disse sim, que queria fazer uma tentativa.”

Mas esses sentimentos bons não durariam muito: “Eu não sei o que dizer agora. Superficialmente, as coisas estão terrivelmente, terrivelmente calmas e erradas – tão erradas quanto poderiam estar. Eu estou tentando – nós dois estamos tentando. Eu ainda acho que há uma chance de que o resultado seja feliz; mas eu teria que pensar assim de qualquer jeito para sobreviver; então você pode tirar quaisquer conclusões que queira sobre isso!”

Essa foi a última carta de Barbara para seu amigo ou para qualquer pessoa até onde se sabe. Numa quinta-feira, 7 de dezembro, 1939, Barbara e Nick brigaram, ela deixou seu apartamento em Brookline naquela noite com 30 dólares e um caderno.

Nunca mais foi vista.

Nick, depois dela não ter retornado, reportou seu desaparecimento duas semanas depois. O departamento de pessoas desaparecidas mandou um alarme para cinco estados, mas sem sucesso. Alguns acreditam que ela fugiu, talvez para perto de seu amigo na Califórnia, mas nenhuma evidência de comunicação vinda dela jamais apareceu.

Barbara Newhall Follet, brilhante e uma vez famosa, simplesmente desapareceu.

Na primeira semana de janeiro, 1923, apareceu do lado de fora de uma certa porta dentro de um apartamento encardido, escuro e apertado, um pedaço de papel contendo o seguinte recado datilografado:

“Ninguém pode entrar neste quarto sem bater se a porta estiver fechada (se não estiver trancada tudo bem).

A pessoa no quarto, se concordar que alguém entre dirá “entre” ou algo assim e se não concordar dirá “ainda não, por favor,” ou algo assim.

A porta ficará fechada se ninguém estiver no quarto mas se a pessoa que quer entrar bater e não ouvir resposta significa que não há ninguém no quarto e ele não deve entrar.

Motivo. Se a porta estiver trancada e a pessoa estiver no quarto, a porta fechada significa que a pessoa no quarto deseja ser deixada sozinha.”

A autora desse estranho manifesto (aqui reproduzido com fiel exatidão textual do original já gasto) foi a autora da precedente história, então a apenas três meses dos nove anos de idade. A porta em que apareceu foi a do quarto no qual, em uma pequena máquina de escrever, ela escreveu as aventuras de
Eepersip e a semana em que apareceu foi a mesma em que essas aventuras tiveram seu início.

Ela as terminou, no mesmo quarto, três meses depois, no começo do mês de março de seu nono ano completo e alguns dias depois de seu aniversário. Uma de suas curiosidades, invenções um tanto quanto não americanas, devo aqui explicar, era o conceito de ter seu próprio aniversário como uma ocasião anual para entregar coisas aos outros membros da família. Desde o começo ela planejou esta história como um presente para sua mãe no 4 de março. Mas será que sua mãe iria “gostar”? Nesse ponto ela precisava de uma opinião desinteressada – nesse caso, a minha. Com intenso sigilo, por trás da porta trancada daquele quarto seguro por um constrito bilhete preparatório, ela lia os episódios para mim à medida que eram produzidos.

Meu franco palpite era que sua mãe iria de fato “gostar”. Eu propriamente gostei, mesmo que apenas expressão inconsciente de uma vitalidade física radiante – tanto que encontrei nesta a poderosa 
nadadora, a agradável jovem companheira das trilhas e rios, sempre pronta para mover os remos incansavelmente ou carregar sem resmungos uma porção de coisas. Eu também “gostei” foi sua  resposta ao um ano em que passou em um ambiente inegavelmente desagradável.

Mas lamentavelmente vieram interrupções – uma delas na forma da única doença significativa que ela já tivera – e diminuiu a sua média diária de produção. Em seus grandes dias a pequena datilógrafa batia a extensão de quatro a cinco mil palavras; mas mesmo assim a mencionada manhã a surpreendeu,  a algumas poucas páginas do final. O conto chegou ao Finis alguns dias depois. Sua extensão, naquela primeira encarnação, era de mais ou menos 40.000 palavras, ou não longe do que é agora. 

Até aquele momento não houve, claro, a ideia de fazer cópias. Fui eu quem introduziu a questão das cópias; e não tinha qualquer conexão com publicação. A autora da história não tinha (nem nunca tivera) experiência em qualquer sistema de escola, pública ou privada, sua educação sendo feita exclusivamente em casa por sua mãe; e eu estava começando a achar que já era tempo da impressão se
tornar parte disso. Foi, na verdade, ideia minha que puséssemos parte de seu trabalho datilografado em
alguma loja pequena onde ela pudesse fazer ela mesma, por a suas próprias provas, aprender mais sobre revisão de textos ao corrigi-los e ver todo o processo acontecer através de uma pequena pilha de cópias para seus amigos.

Mas antes que qualquer coisa do gênero fosse feita eu queria que tivesse a experiência de revisar sua primeira cópia o mais cuidadosamente possível e a deixasse rigorosamente em condição publicável –
o que, de fato, ela estava ansiosa para fazer. Como combinado, ela levou consigo a cópia durante o verão, trabalhou em cima dela desde o começo de julho até setembro com intervalos para nadar, fazer canoagem, subir montanhas e pleno sonhar acordada e a trouxe de volta em 5 de outubro, 1923, pronta para impressão. Vinte e quatro horas depois nós a deixamos em um grande prédio em chamas de onde nada saía além dos seus sortudos ocupantes humanos.

Do ponto de vista de um pai reconhecidamente amoroso – pois não posso ter a menor pretensão de possuir a habilidade de contemplar tudo isso com estranho ou crítico distanciamento – foi de partir o 
coração assistir a uma autora de nove anos torturar sua memória com a finalidade de reconstituir o conto em sua primeira forma. Foram, durante as próximas semanas, muitas horas de “branco” à máquina de escrever e foi devagar e doloroso o “página após página”. Nesse ritmo, levaria uns três anos só para salvar o que certa vez foi confeccionado num espaço de três meses.

Então num dia de dezembro tudo estava repentinamente diferente. Num momento de desespero Barbara parou de tentar relembrar das formas das sentenças, da ordem precisa e fraseologia dos  detalhes, e começou a deixar o material voltar como registrado. E para a sua surpresa começou a voltar fresco, como os rios do norte quando o gelo derrete. Quando, alguns dias depois, nós deixamos o trabalho de lado para organizar o nosso Natal improvisado ela ainda tinha um brilho feliz, o primeiro terço da fantasia existia de novo e a história corria bem.

Então se seguiu uma interrupção atrás da outra e não foi até o outono de 1924 que o segundo esboço estava completo. No fim do inverno de 1924-25, Barbara trabalhou pacientemente no primeiro terço deixando-o no que ela esperava que fosse sua forma final. O manuscrito teve que ser guardado em maio de 1925 e não foi tocado de novo por nove meses. Então, em fevereiro e março, 1926, ela fez a sua revisão das segunda e terceira partes, fez algumas pequenas melhorias na parte I e datilografou uma  cópia do todo – cópia essa da qual esse livro foi feito.

Em que extensão esse manuscrito de uma menina de doze anos é idêntico à história da menina de nove anos? Em uma extensão bem maior, tenho certeza, do que parece compatível com o enorme número de horas gastas nele desde completo; pois um desproporcional número dessas se foi na laboriosa, por vezes inconsciente, recuperação dos efeitos precisos que estavam no último original. As diferenças não
estão onde um estranho à autora naturalmente as procuraria: isto é, na dicção e construção de  sentenças. O vocabulário de Barbara aos nove anos era, claro, uma estratificada combinação de frases de Walter de La Mare e George Macdonald, W.H. Hudson¹ e Mark Twain, Shelley e Scott; para citar, era como agora o é com exceção da posterior adição tardia de palavras que não poderiam estar nessa história de qualquer maneira – as palavras de história, de ciência. E certamente as ideias e emoções fundamentais da história não sofreram mudanças. O fato é, foi concebida e escrita ao fim de uma fase que não poderia voltar – aquela fase da infância normal em que a natureza significa quase tudo e a civilização quase nada. Todo o sentido da existência de Eepersip é simplesmente a saudável consciência de uma menina de nove anos articulada – algo que uma menina de onze anos poderia recordar somente pela proeza da memória e uma mente adulta somente por um improvável tour de force da imaginação. Barbara, resumidamente, designou essa curiosa narrativa no último momento em que essa consciência poderia estar aberta para ela. Sob nenhuma possibilidade humana isso poderia acontecer em sua cabeça aos onze se ela não tivesse posto no papel aos nove.

As principais diferenças, então, entre a versão impressa e a destruída, representam o desenvolvimento inevitável do gosto da autora por pequenas particularidades, e estas são: (1) Há significativamente menos do artifício de perseguição – escapada e correspondentemente mais da pura diversão da beleza natural; (2) grande quantidade de exatidão das medidas na forma de datas, distâncias, graus, alturas e profundidade foram omitidas a fim de tornar a história mais realista e portanto mais trivial; (3) há  certa tentativa de maturidade em manter a fauna e flora consistentes com latitude, altitude e estação do ano; e (4) o lapso de tempo é administrado um tanto quanto mais conscientemente e coerentemente do que era num primeiro momento. Se, no tratamento desses e outros detalhes da história, parece haver um aumento progressivo de maturidade, está é a consequência e a medida do intervalo de nove meses entre a revisão da autora da Parte I e das Partes II e III.

Será observado que as diferenças envolvem pouca ou nenhuma adição. A única parte adicionada está no episódio da irmã mais nova de Eepersip, Fleuriss, o qual está consideravelmente mais desenvolvido. A razão óbvia para isso é que a própria irmã mais nova da autora no momento do primeiro esboço existia apenas como uma insistente exigência de Barbara; enquanto que no período de revisão ela
era um sonho realizado, sujeito a adoração diária. 

Quanto à alfabetização, não há diferença perceptível e não houve nenhuma mudança desde os escritos nos sextos e sétimos anos de Barbara. Resumidamente, o que ao leitor é dado aqui é um articulado  extravasamento de uma criança de oito e nove anos sobre seus próprios sonhos e desejos em um fantasioso conto, superficialmente revisado pela mão de uma menina de doze anos cuja vida em seu lado mais artificial é feita principalmente de livros e música.

Foi ideia da jovem autora, não minha, que a sua história devesse ser acompanhada por uma nota explicativa de seu pai. Eu não sei como, quando ou exatamente por que ela formulou tal requerimento a
mim, mal posso explicar de onde ela tirou tantas ideias que ficaram conhecidas por me surpreenderem e confundirem. Tempos depois da história estar concluída e enquanto estava sob revisão, chegou um dia em que fui informado da existência desse requerimento; que Barbara secretamente contava comigo e com alegria. Alegria! Se eu pudesse dar isso e tão facilmente e para ela, não caberia a mim qualquer gesto de resistência. Insisti somente para que aquilo que eu tivesse a dizer fosse colocado onde não ficasse entre o leitor e a história.

Não seria nem de bom tom e nem de bom senso fazer qualquer tentativa de apreciação dessa crônica, das aventuras de Eepersip em seus espaçosos cômodos de sua Casa sem Janelas. Eu estive muito perto da coisa toda e sou muito próximo da cronista. O máximo que posso acrescentar sem impropriedade é uma declaração do porque da primeira ideia, de como o livro ser confeccionado e não publicado, cedeu 
lugar a uma ideia diferente.

Começou me vir a ideia de que aqui se encontrava algo representativamente valioso – valioso, quero dizer, como uma representação de algo adorável num aspecto geral da infância – e ainda não tão provável de alcançar expressão frequente. O fato é que os impulsos cristalizados nessa história em sua maioria desaparecem à luz de dias comuns um ou dois anos antes do aparecimento daquelas quantidades de articulações mecânicas que são necessárias para uma expressão tangível das mesmas; e assim elas não são quase nunca expressas. Na verdade, eu não sou familiarizado com sequer uma única prosa documentada de tal âmbito que alcance expressão plena ou até mesmo expressão em primeira-mão do que está presente na mente e coração saudáveis de uma criança durante aquela fase misteriosa quando borboletas, flores, andorinhas e ondas brancas são duas vezes mais reais até mesmo do que pais bem toleráveis e incomparavelmente mais importantes – a fase antes que haja qualquer inabalável Tirania das Coisas.”

O que é provavelmente incomum sobre Bárbara é a conspiração das circunstâncias que fizeram essas duas coisas, a fase e a articulação necessária, sobreporem-se. Ela não é precoce e a fase deve ter durado um ou dois anos mais do que em outros. Ela não é excessivamente sociável e não frequentou escolas e grupos: portanto nada a padronizou ou eliminou sua espontaneidade ou a fez particularmente envergonhada disso. A ela foi dado tempo o suficiente para se conhecer. E, quase acima de tudo, ter usado uma máquina de escrever como brinquedo desde tempos dos quais ela não se lembra, a fazia capaz de por pra fora facilmente 1.200 palavras por hora, anos antes de sua caligrafia ter desenvolvido metade da proficiência, sem qualquer conhecimento do processo físico, mesmo com intensa concentração sobre o processo físico individual.

Eu formei, então, a opinião de que sua Eepersip, que vive uma ardente vida de três ou quatro anos 
no inconsciente de quase toda criança, não vive de fato em lugar nenhum no multiverso dos livros. E  me pareceu que essa Eepersip possivelmente tem algo a lhe dizer sobre suas crianças e sobre você mesmo acerca de um tempo que você facilmente pode ter esquecido, bem como, talvez, diretamente para seus filhos.

Um último ponto: Foi dado à Barbara por seus pais na preparação final desse manuscrito exatamente a ajuda que pediu. Isso não é nem perto da ajuda que se dá frequentemente a um autor adulto, pois não há uma ideia ou mudança estrutural nossa em toda a história. Mas não vejo valor em reter um conselho solicitado a fim de fazê-la protagonizar um espetáculo para aqueles que gostam de rir ou gargalhar diante de deslizes infantis em ortografia e gramática. Barbara, cuja ortografia e gramática demonstram-se muito confiáveis, quis que nós a corrigíssemos se essas não estivessem corretas; e nós o fizemos. Quando ela queria saber se ‘uma vírgula basta ou seria melhor ponto e vírgula?’ Respondemos o melhor que podíamos. Quando ela perguntava: “Fui clara quanto ao que queria dizer?” ou “Eu usei essa mesma palavra muito próxima duas vezes?” claro que dissemos como nos soa. Do meu ponto de vista Yankee, irritantemente ela insiste pela preferência a ortografia de Oxford, indubitavelmente encontrada em três a cada quatro livros contemporâneos que ela lê. Bem, assim, eu a alerto de que se ela irá soletrar “colour” ela deve também soletrar “favourite” e “storey” e “veranda”. Mas as palavras em si, as sentenças, são dela, tão fiéis quanto o padrão do todo; e seu trabalho é cuidadoso ao eliminar construções confusas e sucessões de palavras que ela repetidamente usa.

Um dos grandes objetos da escrita imaginativa, creio, é divertir-se. Outro, não completamente separado do primeiro, é aprender enquanto escreve. Eu gosto de supor que Barbara, que acaba de completar doze anos, esteja tendo sua justa parte de ambos. 

WILSON FOLLETT
Março, 1926